15. O mesmo ocorre com o suicídio. Postos de lado os que se dão em estado de embriaguez e de loucura, aos quais se pode chamar de inconscientes, é incontestável que tem ele sempre por causa um descontentamento, quaisquer que sejam os motivos particulares que se lhe apontem. Ora, aquele que está certo de que só é desventurado por um dia e que melhores serão os dias que hão de vir, enche-se facilmente de paciência. Só se desespera quando nenhum termo divisa para os seus sofrimentos. E que é a vida humana, com relação à eternidade, senão bem menos que um dia? Mas, para o que não crê na eternidade e julga que com a vida tudo se acaba, se os infortúnios e as aflições o acabrunham, unicamente na morte vê uma solução para as suas amarguras. Nada esperando, acha muito natural, muito lógico mesmo, abreviar pelo suicídio as suas misérias.
16. A
incredulidade, a simples dúvida sobre o futuro, as idéias materialistas, numa palavra,
são os maiores incitantes ao suicídio; ocasionam a covardia moral. Quando
homens de ciência, apoiados na autoridade do seu saber, se esforçam por provar
aos que os ouvem ou lêem que estes nada têm a esperar depois da morte, não estão
de fato levando-os a deduzir que, se são desgraçados, coisa melhor não lhes
resta senão se matarem? Que lhes poderiam dizer para desviá-los dessa
conseqüência? Que compensação lhes podem oferecer? Que esperança lhes podem
dar? Nenhuma, a não ser o nada. Daí se deve concluir que, se o nada é o único
remédio heróico, a única perspectiva, mais vale buscálo imediatamente e não
mais tarde, para sofrer por menos tempo.
A propagação das
doutrinas materialistas é, pois, o veneno que inocula a idéia do suicídio na
maioria dos que se suicidam, e os que se constituem apóstolos de semelhantes doutrinas
assumem tremenda responsabilidade. Com o Espiritismo, tornada impossível a dúvida,
muda o aspecto da vida. O crente sabe que a existência se prolonga
indefinidamente para lá do túmulo, mas em condições muito diversas; donde a
paciência e a resignação que o afastam muito naturalmente de pensar no
suicídio; donde, em suma, a coragem moral.
17. O Espiritismo
ainda produz, sob esse aspecto, outro resultado igualmente positivo e talvez
mais decisivo. Apresenta-nos os próprios suicidas a informar-nos da situação desgraçada
em que se encontram e a provar que ninguém viola impunemente a lei de Deus, que
proíbe ao homem encurtar a sua vida. Entre os suicidas, alguns há cujos
sofrimentos, nem por serem temporários e não eternos, não são menos terríveis e
de natureza a fazer refletir os que porventura pensam em daqui sair, antes que
Deus o haja ordenado. O espírita tem, assim, vários motivos a contrapor à idéia
do suicídio: a certeza de uma vida futura, em que, sabe-o ele,
será tanto mais ditoso, quanto mais inditoso e resignado haja sido na Terra: a certeza
de que, abreviando seus dias, chega, precisamente, a resultado oposto ao
que esperava; que se liberta de um mal, para incorrer num mal pior, mais longo
e mais terrível; que se engana, imaginando que, com o matar-se, vai mais
depressa para o céu; que o suicídio é um obstáculo a que no outro mundo ele se
reúna aos que foram objeto de suas afeições e aos quais esperava encontrar;
donde a conseqüência de que o suicídio, só lhe trazendo decepções, é contrário
aos seus próprios interesses. Por isso mesmo, considerável já é o número dos
que têm sido, pelo Espiritismo, obstados de suicidar-se, podendo daí
concluir-se que, quando todos os homens forem espiritas, deixará de haver
suicídios conscientes. Comparando-se, então, os resultados que as doutrinas
materialistas produzem com os que decorrem da Doutrina Espírita, somente do ponto
de vista do suicídio, forçoso será reconhecer que, enquanto a lógica das
primeiras a ele conduz, a da outra o evita, fato que a experiência confirma.
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