segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A FAMÍLIA – ONTEM E HOJE- Maria de Lourdes Fernandes Alencar

Importante no contexto da evolução humana, a vida em família é o único meio que nos propicia o aprendizado, a compreensão e a realização dos nossos maiores sonhos como seres inteligentes. Viver numa família bem estruturada é sentir-se parte integrante da harmonia universal. Todavia, aceitando a realidade do plano evolutivo em que se encontra o nosso Planeta, sabemos que essa harmonia, da qual acabamos de falar, nem sempre se faz presente.

1994 foi escolhido pela ONU para ser o Ano Internacional da Família. Em torno deste acontecimento, sociedades de todo o mundo, sem distinção de credo político ou religioso, estão se manifestando no sentido de ressaltar a importância da família.

A família mostra a trajetória da Humanidade, pois existe desde as mais primitivas eras. Em cada época, características próprias marcaram sua existência, de acordo com as leis e o conhecimento dos homens de então. Naturalmente que a família de hoje é também um espelho do grau evolutivo em que nos encontramos.


1. LAR TERRENO – ESTÁGIO PARA OS ESPÍRITOS


A Doutrina Espírita oferece-nos toda uma explicação racional sobre a forma como são constituídos os agrupamentos familiares e a necessidade da convivência mais íntima entre seus membros.

Em cada lar terreno, quanta interação existe do passado com o presente, na tentativa de oferecer a todos nós a oportunidade de cumprir as leis maiores.

Quando dois jovens - homem e mulher - se encontram e anseiam por formar uma nova família, vamos percebê-los envolvidos por sonhos e esperanças, desejosos de participar de uma vida em comum, onde possam sentir-se “completos”, no terreno do afeto e da realização pessoal.

A realidade tem-nos mostrado, contudo, que esses jovens que anseiam por caminhar juntos são quase sempre duas criaturas que se autodesconhecem e desconhecem um ao outro em termos de valores intrínsecos e pessoais, e, no entanto, cabe-lhes a responsabilidade de educar os filhos que virão.

Educar significa ensinar conceitos, oferecer exemplos, mostrar caminhos. Mas, será fácil para quem não se conhece, conhecer a intimidade de um outro ser, mesmo que seja seu filho, e orientá-lo com segurança nos caminhos da vida terrena, lembrando ainda que ele também carrega a sua "bagagem", constituída de aquisições do passado?...

Os filhos que chegarão ao lar não estão simplesmente nascendo em nova casa. São espíritos que retornam ao orbe terrestre em busca de mais aprendizado e inicialmente necessitados de orientação segura.

O primeiro passo do educador é conhecer-se a si mesmo. Partindo desta assertiva, que cada pai e mãe busque realizar um sério trabalho de auto-análise, através do qual terá possibilidade de começar a sua reforma íntima para cooperar na edificação melhorada de novas etapas da vida terrena.

Devemos direcionar para a família todo o nosso potencial de realizações, com a certeza de que não há necessidade de conhecer os detalhes do passado para resolver as dificuldades do presente. E nesta luta, que deve ser alicerçada na boa vontade, não há como ignorar que o trabalho de reestruturação é tarefa de todos.


2. AGRUPAMENTO FAMILIAR


O conceito básico da família formada a partir da união de pai, mãe e filhos raramente corresponde à realidade, pois tanto o pai como a mãe estão ligados às suas respectivas famílias e este fato acarreta a participação de muitas personalidades que passam a se envolver no novo grupo. Poucos, contudo, estão preparados para a vida em grupo, e esse despreparo é talvez o grande obstáculo do bom relacionamento familiar como de todo o contato social.

No agrupamento familiar, como em qualquer outro, a existência de cada uma das pessoas, corresponde a um foco energético emissor de vibrações que envolvem e atingem os demais, acontecendo, então, a chamada interação do pensamento, responsável pelo campo mental em que a família ou todo o grupo se movimenta. Daí a responsabilidade de todos em manter os pensamentos elevados.

É importante que cada componente olhe a sua interioridade e procure solidificar conceitos morais e atitudes fraternas, expurgando de si o egoísmo e o egocentrismo, características que ainda norteiam os nossos passos e por isso costumamos faltar às nossas obrigações de doação em favor das criaturas que nos rodeiam.

A família deve existir para oferecer aos seus membros as condições necessárias à realização pessoal, desenvolver os sentimentos, oferecer segurança emocional, ressaltar o tratamento fraterno e, com isso, constituir-se num modelo de vida capaz de ajudar no progresso da sociedade.

Deve ser sólida o bastante e estar preparada para resistir às investidas menos felizes que tentarão derrubá-la.

O trabalho de doação, inicialmente realizado pelos pais, deve ser feito com confiança e sem restrições, constituindo exemplo a ser seguido pelos filhos, contando ainda com a cooperação de todos os outros membros.


3. ORIENTAÇÃO RELIGIOSA


A melhor forma de oferecer à família os conceitos morais é lembrar o Evangelho de Jesus e seus exemplos. A partir deste início estaremos introduzindo no lar a orientação religiosa.

Para desenvolver um trabalho de educação no lar, indispensável uma base de religião que esclareça as verdades maiores e oriente em rumo seguro. Esta questão é tão importante e está intimamente ligada ao ser humano, que se fez presente em todas as épocas da História com características que marcaram o padrão de vida, conforme veremos a seguir:

- Na era do império Greco-Romano, o homem era servil à Lei com obediência máxima ao Imperador, um quase Deus;

- a época Medieval caracterizou-se pela formação do cristão, submisso à Igreja e aos regulamentos eclesiásticos;

- o período do Renascimento teve o gentil-homem que obedecia a etiquetas e normas sociais, desfrutando a cultura mundana;  

- a época Moderna mostrou o homem esclarecido, apegado às ciências e às artes, mas abalado em sua crença religiosa; e

- hoje nos defrontamos com o homem “psi”, acordado para a sua estrutura mental, mas ainda confuso e sem conhecer todo o seu potencial, preso às angústias e traumas do passado, profundamente marcadas em seu espírito. E talvez por culpa desse mesmo passado longínquo e do seu presente confuso, ele se mostra muitas vezes descrente da religião, que relegou a simples convenção.

O homem atua1 é, em tese, aquele Espírito que passou por todas as épocas e vive agora importante momento existencial, do qual nem se dá conta, mas buscando encontrar verdades substanciais. Seu encontro com a Doutrina Espírita ajudá-lo-á realmente a se conhecer e a conhecer o Universo ao qual pertence.     

Por tudo isso, ensinar também às crianças o princípio da Reencarnação e a Lei de Causa e Efeito é algo perfeitamente adequado, não se esquecendo de que elas trazem consigo a semente desses conhecimentos.


4. SOCIEDADE – EXTENSÃO DA FAMÍLIA

Não é possível isolar a célula familiar da sociedade como um todo. Isto, porque os homens que constituem a sociedade são fruto de uma família.

Não podemos esquecer as dificuldades que muitos setores da sociedade estão atravessando nos dias atuais, mas elas seriam menores se houvesse mais fraternidade e boa vontade entre as pessoas.

Quando os membros de uma família deixam o recesso do lar para atuar na sociedade, devem ter o mesmo comportamento e obedecer aos mesmos princípios de moral. Dentro do lar pertencemos à família consangüínea e, convivendo em sociedade, pertencemos imensa família humana, que Jesus tanto exaltou, pois nos chamou a todos de irmãos.

Se as famílias estivessem estruturadas em sólida base moral, não teríamos a sociedade enfrentando um período tão confuso, navegando ao sabor de experiências mil, com as pessoas sucumbindo diante de apelos menos recomendáveis.

5. A FAMÍLIA ATUAL
 Não seria correto dizer que a família precisa ser resgatada, pois ela continua presente. O que está ocorrendo é a necessidade de melhor compreensão sobre o momento atual e as dificuldades que atingem a muitos.

O diálogo aberto e respeitoso é um exercício que deve ser praticado, pois, sabemos que o questionamento em bases sérias descortina horizontes que muito podem mostrar e ajudar.

O momento presente está exigindo uma participação ativa de todos quantos já se conscientizaram da responsabilidade que nos cabe na manutenção da harmonia à nossa volta. Para conservar a família unida pelos laços do afeto, devemos despertar para o amor verdadeiro, e corajosamente colocar em prática os ensinamentos de Jesus, hoje tão atuais como na época em que Ele os pregou.
6. OBJETIVO  E LIBERDADE 

Dentro do processo educaciona1 a se desenvolver no âmbito familiar, alguns temas são de capital importância e devem ser abordados e analisados de forma a merecer a atenção de pais e filhos. Exemplos:
Auto-análise pelos pais
Fazer a criança entender o que é família
Defeitos dos pais
Bases para uma boa educação
Autoridade paterna e materna
Disciplina e Liberdade
Educação sexual
Vida escolar dos filhos
Educação do sentimento social

Respeitando o ambiente do próprio lar e suas características, cada família deve encontrar as condições ideais para abordar os assuntos que julgar mais necessários e importantes a fim de solucionar as dificuldades do seu agrupamento.

Sobre os temas que citamos e muitos outros, é certo que temos a liberdade de tomar decisões próprias, pois que gozamos do livre-arbítrio. Mas, estaremos usando com sabedoria a liberdade que Deus nos concedeu?...

É hora de analisar sensatamente ações e atitudes e verificar se não estamos cometendo excessos. Nunca será demais lembrar que no equilíbrio reside a chave da felicidade.

Mesmo que tenham mudado as condições de vida quanto a hábitos e costumes, exigências de uma nova época, cabe a responsabilidade de acomodar essas inovações dentro do contexto dos valores sadios, seja no campo moral ou no humanitário.

Segundo André Luiz, o lar é o sagrado vértice onde o homem e a mulher se encontram para o entendimento indispensável. É templo, onde as criaturas devem unir-se espiritual antes que corporalmente. (F C. Xavier, "Nosso Lar", Cap. 20)

A vida em família é o meio capaz de nos ajudar na caminhada evolutiva. Por isso, devemos empregar todos os esforços para que o lar se transforme no aconchego amigo, onde a estrutura espiritual seja forte o bastante para oferecer suporte à vida terrena, tão cheia de percalços, mas plena de oportunidades de crescimento.

Fonte: revista Reformador, da FEB, de setembro de 1994

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