segunda-feira, 13 de agosto de 2012

FILHOS DIFÍCEIS - Geraldo Goulart

No Capítulo 13 de "Missionários da Luz" (FEB), André Luiz mostra-nos aspectos da formação do núcleo familiar a partir da aceitação dos filhos. De suma importância a análise do quadro formado pela reunião das entidades reencarnadas - os candidatos a pais - com os desencarnados: o candidato a filho(a) daquele casal e os orientadores de seu retorno à carne. Talvez porque muitos acreditassem que os filhos fossem bilhetes de loteria, que ao acaso e por sorte nos fossem endereçados ao lar, é que o Amigo Espiritual nos apresenta um diálogo onde se pode apreender toda a responsabilidade e o envolvimento que temos com essas almas que hoje nos felicitam, ou não, a vida, e cujo desenvolvimento nos é atribuído consoante os limites do pretérito.
Outro companheiro de Mais Alto também nos oferece profundo comentário para a reflexão sobre o tema: Emmanuel, em "O Consolador" (FEB), na Questão 175, ga­rante-nos, como que ratificando as informações acima:
"- O colégio familiar tem suas origens sagradas na esfera espiritual. Em seus laços, reúnem-se todos aqueles que se comprometeram, no Além, a desenvolver na Terra uma tarefa construtiva de fraternidade real e definitiva.
Preponderam nesse instituto divino os elos do amor, fundidos nas experiências de outras eras; todavia, aí acorrem igualmente os ódios e as perseguições do pretérito obscuro, a fim de se transfundirem em solidariedade fraternal, com vista ao futuro."
O simples conhecimento desses fatos já serviria para sedimentar em nós a crença de que, por óbvios motivos, nossos filhos não podem ser cópias de nossa personalidade (a despeito da educação que lhes imprimamos), bem como não se interromperão os laços afetivos, qualquer que seja sua natureza, pela sua ou a nossa desencarnação. Aliás, conforme sucintamente explanado na Questão 205 de "O Livro dos Espíritos" (FEB), a reencarnação não destrói os laços de família, antes os consolida porque as nódoas geradas nos equívocos perdidos no passado terminarão suplantadas pela corrente fortalecida no Amor naturalmente desenvolvi­do pelos laços da consangüinidade. De fato, a parentela remonta aquém da existência atual.
Quando o Divino Amigo nos informava, alertando, de que os inimigos do homem serão os de sua própria casa, conforme as anotações de Mateus (10:36), Ele já nos prevenia sobre todas essas situações que apenas com a chegada do Consolador prometido passaríamos a analisar.
O caráter dos filhos sempre diferirá do de seus pais porque têm, os filhos, que atender a seus próprios impulsos que lhes são inerentes por serem bagagem pretérita e porque "(...) o Espírito não procede do Espírito" Questão 207 de "O Livro dos Espíritos". Claro que a educação bem orientada tem a condição de modificar os caminhos tortuosos e os impulsos doentios, mas se tal não ocorrer, não terá sido pelo fato de que nossas preces não tenham sido ouvidas. Não se pode olvidar que também nossos filhos têm sua necessidade de aprendizado específico e que, de acordo com suas novas determinações, poderão esquivar-se ou não de algumas fases aflitivas.
A par dos dissabores sempre inerentes a qualquer criação, identificamos, vez por outra, casais com profundos problemas com sua prole: filhos que desonram ou desrespeitam seus genitores. Não vem ao caso analisar, agora, se foi por excesso ou omissão de amor porque cada caso, ainda aqui, prosseguirá diferente dos outros. São tantas as diversidades de situações encontradas que dificilmente se poderia justificar qualquer delas. Mas a Doutrina Espírita nos fala, sim, direta ou indiretamente, sobre os filhos difíceis, a maternidade-paternidade sacrificial e nos mostra, como sempre, que a nossa responsabilidade se encontra na geratriz do problema: aqui, um abandono de lar que gerou acerbas situações de sobrevivência e revolta; ali, a entrega ao vício destruidor das melhores bases morais e orgânicas que nos atrelou ao ócio em detrimento do fiel cumprimento dos deveres esponsalícios; acolá, o aborto criminoso sustentado em esfarrapadas justificativas escoradas no execrável sentimento de liberdade ou descomprometimento de qualquer nível, mas sempre traduzindo nossa ignorância e o uso indevido do livre-arbítrio e que irá envolver os pais comprometidos na gestação frustrada porque, se a quase-mãe abortou, foi o pai quem concedeu os recursos financeiros para a consumação do atentado. Nesse universo de almas comprometidas acabaremos por nos identificar quando geramos assassinos, psicopatas, suicidas, viciados em todos os graus, seres a nós ligados pela quase imposição do retorno para resgates dolorosos. Quanta tristeza e sombra a abater-se sobre tais criaturas geradoras de tantas deformidades que, se soubessem que lhes sucederiam semelhantes desgraças, prefeririam a infertilidade, que igualmente serve de flagelo a tantos outros casais a título de conseqüência responsiva aos desmandos transatos.
Mas a Providência é Mãe que não abandona seus filhos, todos muito amados e, ainda que respeitando os antecedentes individuais e as necessidades coletivas dos grupos familiares, supre sempre a inspiração para o despertamento das responsabilidades atuais e favorece novas possibilidades para abrandar os reajustes. Assim, o amor materno, aquele amor que mais intensamente entendemos porque se nos revela entranhado já desde o princípio, quanto atuante, promove milagres no fenômeno da transformação. O amor, por mais cristalizados se encontrem os indivíduos, será sempre poderoso agente a provocar o despertamento para os valores mais altos e santificantes da Vida. Veja-se o caso de Gregório em "Libertação", de André Luiz.
Será ainda com Emmanuel que encontraremos preciosa orientação, à luz do procedimento evangélico, para aquietar nossas almas aflitas em tais situações, quando nos arde a consciência entre a dúvida e a certeza sobre a falência dos esforços envidados para o bom direcionamento dos filhos que agasalhamos e se transviam. Elucida o amorável Mentor:
"- Depois de movimentar todos os processos de amor e de energia no trabalho de orientação educativa dos filhos, é justo que os responsáveis pelo instituto familiar, sem descontinuidade da dedica­ção e do sacrifício, esperem a manifestação da Providência Divina para o esclarecimento dos filhos incorrigíveis, compreendendo que essa manifestação deve chegar através de dores e de provas acerbas, de modo a semear-lhes, com êxito, o campo da compreensão e do sentimento."
É igualmente importante, contudo, não esquecer que tantos aborrecimentos, angústias e desencontros na busca do entendimento com essas almas credoras do nosso afeto e dedicação integral têm sua gênese no passado delituoso em que nos envolvemos. Cumpre, a partir de agora, quando amparados em tantas benesses de esclarecimento nos encontramos, fortalecer o sentimento cristão para minimizar os efeitos deletérios das impossibilidades que venhamos a enfrentar na tentativa de resgate desses filhos difíceis de hoje. Somente assim poderão vislumbrar, amanhã, o potencial do amor que lhes hipotecamos na reivindicação do perdão pelos desmandos de ontem.
Fonte: revista Reformador, da FEB, de dezembro de 1994

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