No
Capítulo 13 de "Missionários da Luz" (FEB), André Luiz mostra-nos
aspectos da formação do núcleo familiar a partir da aceitação dos filhos.
De suma importância a análise do quadro formado pela reunião das entidades
reencarnadas - os candidatos a pais - com os desencarnados: o candidato a
filho(a) daquele casal e os orientadores de seu retorno à carne. Talvez porque muitos acreditassem que os filhos fossem
bilhetes de loteria, que ao acaso e por sorte nos fossem endereçados ao lar, é
que o Amigo Espiritual nos apresenta um diálogo onde se pode apreender toda a responsabilidade
e o envolvimento que temos com essas almas que hoje nos felicitam, ou não,
a vida, e cujo desenvolvimento nos é atribuído consoante os limites do pretérito.
Outro
companheiro de Mais Alto também nos oferece profundo comentário para a reflexão
sobre o tema: Emmanuel, em "O Consolador" (FEB), na Questão 175, garante-nos,
como que ratificando as informações acima:
"- O colégio
familiar tem suas origens sagradas na esfera espiritual. Em seus laços,
reúnem-se todos aqueles que se comprometeram, no Além, a desenvolver na
Terra uma tarefa construtiva de fraternidade real e definitiva.
Preponderam nesse
instituto divino os elos do amor, fundidos nas experiências de outras eras;
todavia, aí acorrem igualmente os ódios e as perseguições do pretérito obscuro,
a fim de se transfundirem em solidariedade fraternal, com vista ao futuro."
O
simples conhecimento desses fatos já serviria para sedimentar em nós a crença
de que, por óbvios motivos, nossos filhos não podem ser cópias de nossa
personalidade (a despeito da educação que lhes imprimamos), bem como
não se interromperão os laços afetivos, qualquer que seja sua natureza, pela
sua ou a nossa desencarnação. Aliás, conforme sucintamente explanado na Questão
205 de "O Livro dos Espíritos" (FEB), a reencarnação não destrói os
laços de família, antes os consolida porque as nódoas geradas nos equívocos
perdidos no passado terminarão suplantadas pela corrente fortalecida no Amor
naturalmente desenvolvido pelos laços da consangüinidade. De fato, a parentela
remonta aquém da existência atual.
Quando
o Divino Amigo nos informava,
alertando, de que os inimigos do homem serão os de sua própria casa, conforme
as anotações de Mateus (10:36), Ele já nos prevenia sobre todas essas situações
que apenas com a chegada do Consolador prometido passaríamos a analisar.
O
caráter dos filhos sempre diferirá do de seus pais porque têm, os filhos, que
atender a seus próprios impulsos que lhes são inerentes por serem bagagem
pretérita e porque "(...) o
Espírito não procede do Espírito" Questão 207 de "O Livro dos
Espíritos". Claro que a educação bem orientada tem a
condição de modificar os caminhos tortuosos e os impulsos doentios, mas se tal
não ocorrer, não terá sido pelo fato de que nossas preces não tenham sido
ouvidas. Não se pode olvidar que também nossos filhos têm sua necessidade de
aprendizado específico e que, de acordo com suas novas determinações, poderão
esquivar-se ou não de algumas fases aflitivas.
A
par dos dissabores sempre inerentes a qualquer criação, identificamos, vez por
outra, casais com profundos problemas com sua prole: filhos que desonram ou
desrespeitam seus genitores. Não vem ao caso analisar, agora, se foi por excesso
ou omissão de amor porque cada caso, ainda aqui, prosseguirá diferente
dos outros. São tantas as diversidades de situações encontradas que
dificilmente se poderia justificar qualquer delas. Mas a Doutrina Espírita nos
fala, sim, direta ou indiretamente, sobre os filhos difíceis, a
maternidade-paternidade sacrificial e nos mostra, como sempre, que a nossa
responsabilidade se encontra na geratriz do problema: aqui, um abandono
de lar que gerou acerbas situações de sobrevivência e revolta; ali, a entrega ao
vício destruidor das melhores bases morais e orgânicas que nos atrelou ao ócio
em detrimento do fiel cumprimento dos deveres esponsalícios; acolá, o aborto criminoso sustentado em esfarrapadas
justificativas escoradas no execrável sentimento de liberdade ou
descomprometimento de qualquer nível, mas sempre traduzindo nossa ignorância e
o uso indevido do livre-arbítrio e que irá envolver os pais comprometidos na
gestação frustrada porque, se a quase-mãe abortou, foi o pai quem concedeu os
recursos financeiros para a consumação do atentado. Nesse universo de almas
comprometidas acabaremos por nos identificar quando geramos assassinos,
psicopatas, suicidas, viciados em todos os graus, seres a nós ligados pela
quase imposição do retorno para resgates dolorosos. Quanta tristeza e sombra a
abater-se sobre tais criaturas geradoras de tantas deformidades que, se
soubessem que lhes sucederiam semelhantes desgraças, prefeririam a
infertilidade, que igualmente serve de flagelo a tantos outros casais a título
de conseqüência responsiva aos desmandos transatos.
Mas
a Providência é Mãe que não abandona
seus filhos, todos muito amados e, ainda que respeitando os antecedentes
individuais e as necessidades coletivas dos grupos familiares,
supre sempre a inspiração para o despertamento das responsabilidades atuais
e favorece novas possibilidades para abrandar os reajustes. Assim, o amor
materno, aquele amor que mais intensamente entendemos porque se nos revela
entranhado já desde o princípio, quanto atuante, promove milagres no fenômeno
da transformação. O amor, por mais cristalizados se encontrem os indivíduos,
será sempre poderoso agente a provocar o despertamento para os valores
mais altos e santificantes da Vida. Veja-se o caso de Gregório em
"Libertação", de André Luiz.
Será
ainda com Emmanuel que encontraremos preciosa orientação, à luz do procedimento evangélico, para
aquietar nossas almas aflitas em tais situações, quando nos arde a consciência
entre a dúvida e a certeza sobre a falência dos esforços envidados para
o bom direcionamento dos filhos que agasalhamos e se transviam. Elucida
o amorável Mentor:
"- Depois de
movimentar todos os processos de amor e de energia no trabalho de
orientação educativa dos filhos, é justo que os responsáveis pelo instituto familiar, sem descontinuidade da
dedicação e do sacrifício, esperem a manifestação da Providência Divina para o
esclarecimento dos filhos incorrigíveis, compreendendo que essa manifestação
deve chegar através de dores e de provas acerbas, de modo a semear-lhes,
com êxito, o campo da compreensão e do sentimento."
É igualmente
importante, contudo, não esquecer que tantos aborrecimentos, angústias e
desencontros na busca do entendimento com essas almas credoras do nosso afeto e
dedicação integral têm sua gênese no passado delituoso em que
nos envolvemos. Cumpre, a partir de agora, quando amparados em tantas benesses
de esclarecimento nos encontramos, fortalecer o sentimento cristão para
minimizar os efeitos deletérios das impossibilidades que venhamos a enfrentar
na tentativa de resgate desses filhos difíceis de hoje. Somente assim poderão
vislumbrar, amanhã, o potencial do amor que lhes hipotecamos na reivindicação
do perdão
pelos desmandos de ontem.
Fonte:
revista Reformador, da FEB, de dezembro de 1994
Nenhum comentário:
Postar um comentário